Nesta conversa com o meu amigo e psicólogo Ivandro Monteiro julgo que deu para perceber que a Filosofia e a Psicologia encaram a questão sobre o sentido da vida desde patamares diferentes. Para um psicólogo responder à questão o sentido da vida é antes de tudo procurar com que nos sintamos bem com a nossa vida, que encontremos sentido em nós e na nossa forma de estar no mundo. Para isso procura fornecer-nos algumas ferramentas emocionais e cognitivas que nos ajudem a viver melhor. Trata-se, no final, de uma questão de saúde mental e espiritual aquela que interessa aos psicólogos que poderia ser melhor formulada da seguinte forma: “Como podemos viver melhor?”.
Já para a Filosofia o sentirmo-nos bem com a nossa vida e encontrarmos nela algum sentido não é a questão primordial. Antes disso temos de tentar descobrir se a vida como um Todo faz sentido e não apenas se as nossas vidas individuais fazem sentido ou como é que podem fazer sentido. A questão filosófica sobre o sentido da vida poderia ser reformulada para “Como é que a Vida pode fazer sentido?” ou se “Vale a pena viver?”, para o caso de não encontrarmos um sentido ou um propósito para a vida no seu todo.
Julgo que a questão da verdade, de saber se, afinal, a vida como um Todo faz sentido, não importa à Psicologia e aos Psicólogos, como também não importa à religião (por outras razões). Mas importa à Filosofia e aos Filósofos. Para um psicólogo (mas não para um religioso) mesmo que a vida como um Todo não faça sentido a vida pode ainda assim fazer sentido para mim e isso seria suficiente. Um Filósofo desconfia deste optimismo. Se a vida não faz sentido como um Todo, como é que pode fazer sentido individualmente? Como é que a vida de alguém que é como um átomo num Universo sem sentido pode fazer sentido? Ou, se o Todo não faz sentido como é que a parte pode fazer sentido?
Como a religião, a psicologia também não aceita como válida a aceitação do desespero que pode sentir alguém quando percebe que a vida não tem sentido no seu Todo. Para um filósofo (mas não para um psicólogo ou um religioso) o suicídio físico por motivos intelectuais é algo admissível. Para Camus esta era a questão primordial que, por motivos óbvios, devia ser respondida antes de todas as outras. Se não valesse a pena viver para quê continuar a fazer filosofia?
SE para um religioso não faz sentido pensar que a vida não tem sentido (Deus confere sentido à sua vida) e se para um psicólogo faz sentido viver uma vida sem sentido, para um filósofo é urgente saber se pode a vida fazer sentido sem Deus, se as panaceias que a psicologia nos propõe resolvem alguma coisa ou apenas nos fazem fugir do problemas e se, finalmente, uma vida sem sentido merece ainda assim ser vivida.
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